sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Episódio 38: Daqui pra frente...

As luzes do palco acendem e a banda entra com os primeiros acordes de Turn Your Lights Down Low, a preferida de Mary Jane. A música vibra no coração da garota, e ela dança como se flutuasse no palco. Quando solta a voz, a galera toda se arrepia.
- Meu! Como essa guria canta! - diz Michele.
- Bahhh, muito mesmo! - concorda Líder.
Cadu disfarça, conversa com o pessoal, mas tá de olho em Lúcia. “Nossa, como ela tá linda!”, pensa. Ela também não desgruda os olhos do garoto. A mãe da menina a presenteou com um par de lentes de contato pela formatura. A gurizada percebe os olhares dos dois e vai dando um jeitinho de vazar. Quando vêem, estão frente a frente. Cadu abre a boca pra falar alguma coisa, mas Lúcia o interrompe com mais um beijo daqueles.
- Nossa, Lúcia! - é só o que o menino consegue dizer, porque Lúcia o agarra de novo.
- Uau! Quem diria, hein? - diz Leco, dando um tapinha no ombro do amigo. - Altas revelações hoje!
Leco encontra Gegé num canto do ginásio, com um copo de cerveja na mão e o olhar perdido.
- E aí, meu? Pensando em quê? Ou melhor, em quem?
- Bah, véio...
- Nem precisa dizer que eu sei... Ela tá lá com as gurias, porque não dá um chego e conversa na boa com a Cami? - sugere Leco.
- Acho que vou fazer isso sim, só preciso criar coragem.
Gegé vai ao banheiro e quando volta a banda está tocando baladinhas românticas. Os casaizinhos lotam a pista... É Junior e Tatiene, Cadu e Lúcia, Paty e Naty se revezando com Fabinho, Renata e Fernando... Gegé caminha até Camila e a pega pela mão sem dizer uma palavra. Eles só trocam um olhar, que diz e explica tudo.
- Nossa, a gente quase nem consegue ficar abraçados, né? Com essa barriga... - diz Camila, nervosa.
- É, mas já tá quase na hora dessa menina nascer, né?
- Escolhi o nome dela já... Vai ser Laura! Que que tu acha? - pergunta Camila.
- Nome lindo... Laura!
- Acho que ela sabe que é tu que tá aqui comigo! Tá se mexendo muito!
O abraço fica mais intenso e eles se beijam. Michele, fogueteira que só, começa a aplaudir o casal.
- Já tava na hora, né!!! - grita.
No palco, começa a pintar um clima entre Joe e Mary Jane. O show já tá no fim, eles estão dando o “bis” e logo vai tocar som mecânico. Depois da última música, a turma toda grita e aplaude. A apresentação foi sucesso total.
Mary Jane sai do palco exausta, Joe a acompanha. Eles pegam uma cerveja e sentam num canto do ginásio. Começam os beijos, que logo começam a ficar mais quentes. Joe leva Mary Jane para a sala onde fica guardado o material de Educação Física. Eles deitam sobre um monte de colchonetes e a garota finalmente cede às investidas de Joe. A primeira vez dos dois rola ali mesmo. Apesar da ansiedade e da afobação, eles não esquecem da camisinha e do carinho que sentem um pelo outro. Passam muito tempo se curtindo depois.
- Sabe duma coisa, guria? - diz Joe. - Pode ser que a gente nem fique junto a sério, que a nossa vida a partir de agora mude, com faculdade, emprego e tal, mas eu nunca vou te esquecer. Tu vai ser sempre especial pra mim.
- Tu também, Joe. Isso que aconteceu agora ligou a gente pra sempre. - concorda Maria Joana.
Enquanto isso, a turma toda forma um círculo no meio da pista. Abraçados, alguns choram pelo fim de uma fase linda, outros riem felizes para o futuro que chega. O que vai ser daqui pra frente vai depender de cada um. As escolhas feitas nesse momento podem ser pra sempre. Ou não. A música pára e eles continuam ali, abraçados, como se não quisessem mais ir embora. Cantam baixinho e riem. Como se soubessem que a época do colégio é, com certeza, a melhor de toda a vida.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

EPISÓDIO 37: Chega a grande noite!

É hoje! Finalmente chegou o grande dia – digo, noite. Líder não consegue conter o nervosismo, afinal, vai ser o mestre de cerimônias da solenidade de formatura dos terceiros anos do Liceu. Ele foi o cara que mais correu contra o tempo para que a festa fosse inesquecível na vida de todos os estudantes. É claro que ele teve a ajuda do Sid, da Tia Zilú e até do Gílldo para contatar profissionais de decoração, de iluminação, de sonorização e está satisfeito com o serviço.
Líder está lendo seu texto em um papel rabiscado e treinando suas falas em um canto do ginásio quando chega Pedrão, cheio de farelo na boca, pois acaba de comer um salgadinho.
- Cara, tu tá pálido, branco! – comenta Pedrão, observando Líder.
- Bah, tô muito nervoso!
- Mas não precisa ficar. Tu é tri responsável e sempre fala tri bem. Tu já treinou bastante teu texto, mas se tu te esquecer, usa essa tua colinha e pronto! – aconselha Pedrão.
- É, eu sei disso. Eu estou preparado inclusive pra gaguejar, afinal essa noite é nossa e eu estou muito empolgado!
As arquibancadas do ginásio do Liceu foram especialmente decoradas para não parecer exatamente um ginásio. Forraram com almofadas, decoraram as paredes e improvisaram uma passarela e um palco. O lugar começa a encher. Junior chega acompanhado de sua família e traz a tira-colo a namorada Tatiene (assumindo de vez o tal romance!). Paty e Naty estão com vestidos parecidíssimos e sentam próximo do amigo Fabinho, que está junto com sua mãe e sua tia. Xandão, Juju, Geek, Matthew, Renata e Michele chegam em cima da hora, mas ainda a tempo de ver Líder começar seu pronunciamento.
Líder pega o microfone do púlpito no palco improvisado e começa a cerimônia.
- Boa noite, queridos colegas! Este é um ano muito especial para nós, pois é a última fase de uma importante etapa escolar. Após anos de estudos, partiremos para novos desafios, novas descobertas e novos rumos. O importante é saber que agora vamos seguir por carreiras que realmente escolhemos. Futuramente, poderemos nos reencontrar, já como profissionais e atuando no mercado de trabalho. Portanto, não vamos dizer “tchau”, mas sim “até breve”. De qualquer maneira, ainda pode ser que não nos vejamos mais. Alguns morarão em cidades distantes. Com outros, mesmo perto, certamente não teremos mais contato. Aliás, foi o contato diário que nos transformou em uma grande turma e da qual cresceram grandes amizades. Sentiremos saudades. Dos conselhos, dos ombros amigos nas horas difíceis, dos risos e das lágrimas. Mas, com certeza, vamos nos lembrar com carinho deste nosso último ano. O ano em que nos tornamos, todos juntos, a TURMA DO TERCEIRÃO!
Neste instante, todos os presentes no ginásio do Liceu se levantam para aplaudir o discurso de Líder. Alguns já soluçando. Mary Jane é uma que está emocionada e com a voz embargada. Mas ela tenta se conter, pois daqui a pouco vai começar o show de encerramento da festa de formatura – e ela é a vocalista da banda do Joe. Aliás, Joe e Marcos já estão a postos, esperando Mary Jane também entrar no clima. O show vai começar!

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

EPISÓDIO 36: Boas novas

Alguns dias depois, já refeito do “ataque surpresa” de Lúcia, Cadu parece estar no mundo da lua. Fica o tempo todo pensando naquilo. A menina consegue mesmo mexer com o coração do garoto. Ele lembra que já está disponível na internet o resultado do primeiro vestibular em que ele se inscreveu, e corre para o computador. O garoto se anima. “Beleza pura! Comecei bem!”
Ao lembrar do amigo Leco, ele corre para o telefone:
- Cara, passei! Passei! - grita Cadu.
- Tu olhou bem a lista de aprovados? - pergunta Leco, atiçando a curiosidade do amigo.
- Na verdade, só dei uma olhada por cima, por quê?
- Por que eu também passei! - Comemora Leco.
- E tu nem sabe, cara... Me chamaram pra fazer um teste no América nesse final de semana. Se der tudo certo, eu já entro no time juvenil que vai disputar o campeonato estadual – completa.
- Mas como tu vai fazer com a facul? - pergunta Cadu.
- Ah, eu dou um jeito, mas vou fazer a facul. Não vou ficar sem estudar. Com jeitinho, eu consigo fazer as duas coisas. Ainda mais se eu passar aqui – responde Leco, projetando o futuro.
Depois do papo, Cadu ficou ansioso para contar as novidades ao amigo Gegé e correu novamente para o telefone. O colega ficou muito feliz com a notícia da aprovação dos dois.
- Ah, mas vê se agora que tu vai virar profissa não deixa os amigos de lado, né? Aquele futibas tem que continuar rolando – diz Gegé.
- Que é isso, cara... Com certeza. Nosso jogo é sagrado! - responde Cadu.
Na verdade, além de contar sobre sua aprovação e do colega Leco, Cadu queria mesmo era aproveitar para conversar com Gegé sobre o que aconteceu no colégio com a Lúcia. Ele sentia uma vontade imensa de desabafar, conversar com alguém, confessar que tinha gostado da atitude da menina e que o beijo havia mexido com seu coração. Só não sabia qual seria a reação de Gegé.
- Cara, tenho que te contar um lance que aconteceu lá no colégio – diz Cadu.
- Que lance? - pergunta Gegé, com uma pontinha de curiosidade.
- Cara, tu nem imagina. Eu encontrei a Lúcia e comecei a conversar com ela, perguntei porque ela não tinha me cumprimentado na festa, mesmo ficando horas do meu lado, e ela simplesmente veio com umas conversas malucas, dizendo que tinha uma coisa que ela queria fazer antes que se arrependesse e tal.
- E o que ela fez?
- Ela simplesmente me agarrou e me deu um beijo daqueles! - diz Cadu.
- Mas ah, guri! Tá podendo, hein! Tá pegando a CDF... Quem diria... Eu sempre achei que vocês formavam um belo par – brinca Gegé. - Garanto que tu gostou.
- Olha, cara, não vou te falar que não gostei por que eu gostei. Sei lá, eu curti pra caramba. E te confesso que estou até sentindo vontade de ficar com ela de novo – revela Cadu.
- Cara, vai à luta. Se tu curtiu e acha que pode rolar um lance legal, vai em frente, cara. Eu te dou o maior apoio – garante Gegé.
A conversa sobre amores lembra Cadu sobre a difícil situação que Gegé e Camila enfrentam.
- E tu e a Cami, como estão? Voltaram? - pergunta Cadu.
- Ainda não, cara. A gente brigou feio esses dias e tá dando um tempo. Acho que vai ser bom pra nós. Eu tava muito confuso com tudo que tá acontecendo – diz Gegé.
- Mas tu tem que ter consciência de que tu vai ser pai, cara, tu não pode abandonar a Cami e o bebê de vocês. Tenta conversar com ela e voltar numa boa – aconselha Cadu.
- É, tu tem razão, cara, acho que vou fazer isso. Mas e tu, quando é que vai conversar com a tua CDFzinha? Já tá pensando em alguma ocasião especial pra ficar com ela de novo? - pergunta Gegé.
- Cara, não sei. Eu tava pensando na festa de formatura. Vai estar muito legal, todos vão estar lá e seria muito divertido ficar com ela na festa. Ah, por falar nisso, o pessoal já está com quase tudo pronto. A festa vai estar muito legal. Tu já tá te sentindo bem pra ir?
- Ainda tenho mais umas sessões de fisioterapia antes, mas acho que vou estar 100% pra festa. E não quero perder por nada a oportunidade de te ver ficando com a Lúcia – brinca Gegé.
- Amanhã eu vou ver com o Líder como estão os preparativos. A festa vai ser muito massa! - empolga-se Cadu.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

EPISÓDIO 35: Antes tarde do que nunca

O assunto é um só no colégio Liceu: a tal formatura dos terceiros anos. Todo mundo tem uma idéia pra dar. Joe tá eufórico escolhendo o repertório da banda. Mary Jane já passou uma lista de músicas que a energia dela diz que tem de ser cantadas naquela seqüência. Até o Pedrão rasurou umas palavras e tá na cola do Líder, lembrando a todo momento preocupado:
- Tá, não vai perder o papel, hein, é importante o que escrevi aí. Não pode mostrar pra ninguém também.
“O que será que o gordo tá inventando, mal dá pra entender a letra dele”, pensa Líder.
Tanta gente preocupada... Luana e Andréia fazem contagem regressiva pra fazer ficha de emprego por aí. Paty e Naty não conseguem definir que roupa usar no dia e se negam até a morte usar baby-look de algodão e calça jeans. Só Lúcia que ainda tá com a cabeça em outro lugar. Ficou lá no Hawaii, na noite do showzinho do Raul.
Desde aquela noite, Lúcia ficou com a idéia fixa: “Quem seria aquela obra divina que ficou perto dela na festa?”. Mal sabia que era o Cadu quem estava de olho nela. Afinal, sem óculos e sem estratégia de conquista pra começar um papo, ficou na dela e acreditou mesmo que o cara era um príncipe. Não que não fosse charmosão, mas não era tuuudo aquilo de bom também.
A guria é daquelas que acha que o cara vai chegar junto só dela ficar parada na frente dele. Pra Tatiene, nem adiantava perguntar, porque ela passou a noite aos beijos e abraços com o Junior. E se a Tatiene mudou consideravelmente sua personalidade, Lúcia segue o mesmo caminho. A CDF não tá mais preocupada em estudar, afinal ainda não sabe se presta vestiba pra Medicina - como já se inscreveu em alguns vestibas antes de participar do projeto “Na Sombra”, quando desmaiou vendo sangue ao acompanhar a rotina de um médico. É capaz de nem fazer vestiba agora, tá afim de dar um tempo pra se decidir.
Tá chegando o fim do ano e Lúcia passou a fazer coisas que jamais fez durante anos de colégio: se sociabilizar. Conversa nas aulas e incrivelmente deixou de copiar algumas matérias e de fazer algumas tarefas. Na cabeça, só dava que ela queria deixar de ser BV, sem tiração de sarro da galera. “Mas, e se o cara notar na hora?”, preocupava-se. Ela queria era treinar e muito, pra fazer bonito na hora H.
O sinal toca pro intervalo. Lúcia fuzila os meninos com olhares rápidos e até indiscretos, afinal, ela não tem jeito pra paquera. Tatiene chega junto da amiga pra alertar:
- Lúcia, qual é a tua? Tá toda estranha, tá dando até bandeira!
- Ai, vai dizer... Tô aqui tão na minha... – se justifica.
- Tá, te dou um desconto porque tu é BV! Hahaha – se diverte Tatiene.
- Aiê! Não precisa ficar lembrando toda hora. Oh, teu objeto de desejo alheio vem vindo aí. Não vou atrapalhar o casal.
Lúcia vai pro Barzinho do Liceu, onde encontra com Cadu no balcão, que puxa assunto. Ele ficou meio de cara porque o Líder chamou a banda do Joe pra tocar na formatura. Queria mais é juntar uma roda de pagode.
- Pois é, gosto musical é tão de cada um, né? – desconversa a guria.
- Sóóó... Tipo, tu não curte muito, né? Tipo, um som assim mais batucado, brasileiro...
- É, acho que não muito.
- É, eu notei que tu não tava muito animada no showzinho do Raul...
Lúcia engasga e de olhos arregalados vira-se pra Cadu e pergunta gaguejando:
- T-tu t-tava lá?
- Sim, fui conferir. Vai dizer que tu não me viu? Bom, eu lá do teu lado e tu nem pra me cumprimentar também...
- Era tu? A noite toda era tu? – desespera-se cada vez mais avermelhada no rosto.
- Ah... Tá de brincadeira? E por que tá tão preocupada, já passou alto tempo isso.
- Vai me desculpar, Cadu, mas vem comigo! – Lúcia arrasta o garoto pelo braço, saindo do bar, indo pra um cantinho do corredor.
- Qualé, tá doida, guria?
- Cadu, tu já ouviu falar que a gente tem que fazer algumas coisas pra não se arrepender depois, por não ter feito?
- Tu tá caducando mesmo... Do que tu não quer te arrepender?
Cadu mal termina de falar e Lúcia agarra o cara, que era mais alto que ela por sinal. Quase beija o queixo dele, mas ela segurava com as duas mãos o rosto dele que, vai ver, ficou até com torcicolo. Finalmente, Lúcia não era mais BV.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

EPISÓDIO 34: Abstinência

Que agonia... Renata sentia uma ansiedade terrível. Já tinha tomado uns dez copos de água, já tinha tomado banho, já tinha fumados uns cinco cigarros, mas às vezes era beeem complicado. Pegou o celular e ligou pro Fernando.
- Nando, tu tem um tempinho pra mim?
- Ai Rê, tô escrevendo, tô no meio do raciocínio.
Agora Fernando não parava mais de escrever contos, crônicas, poesias... A mente dele parecia ter aberto as comportas da inspiração. Depois de tanto tempo sem se expressar, ele agora tinha maratonas de criatividade e escrevia, escrevia, escrevia... Também já tinha decidido fazer vestiba pra Jornalismo.
- Mas Nando, é super importante... Tá rolando de novo...
- Sério? Tá, já tô passando aí.
Fazia praticamente três meses que Renata estava de cara. Naquela noite no Hawaii, Fernando a tinha encontrado sentada na calçada olhando as estrelas e ela sentiu que tinha encontrado um amigo. Ele a levou pra casa e ela contou tudo de si. A confissão durou duas horas e entre lágrimas e soluços, ela desabafou. Tinha medo do que ele ia pensar, ou de como iria reagir, mas ele não falou nada... a noite inteira. Só a abraçava e lhe dava carinho. E foi isso que encantou a menina. Depois ele contou que tinha escrito o bilhete, que estava curtindo muito ela...
Fernando tinha medo, é claro. Não imaginava que ela estivesse envolvida com drogas, mas entendia o sentimento de vazio e solidão que a tinha motivado recorrer a isso. E estava disposto a ficar do lado da amiga pro que fosse... Eles não estavam namorando nem nada, mas o relacionamento de cumplicidade tornava-se cada vez mais profundo. Agora, todas as vezes que Renata tinha crises de abstinência (que não eram tão fortes porque ela nunca chegou a ser uma usuária diária) ela ligava pro Fernando.
Ninguém sabia de nada e, por enquanto, eles preferiam tentar resolver do jeito deles. Ela ligava, Fernando vinha, eles davam uma volta, ele ficava com ela até passar. A mãe de Renata não gostava de Fernando e vivia proibindo e xingando a filha se imaginava que ela estava com o menino. Renata tinha muita raiva. "Ela não sabe de nada, de nada da minha vida!". E não lhe dava ouvidos, saía com Fernando e a deixava gritando sozinha.
Ele chega uma meia hora depois e ela abre a porta subitamente. Com a testa franzida, suando, pede:
- Me tira daqui, vamos dar uma volta, por favor!
Ela aperta sua mão forte e ele segura a dela mais forte ainda. Quer lhe dar força, quer que ela não se sinta sozinha. Mas os dois sabem que essa barra não é fácil e que ainda tem maus momentos pela frente. Renata nunca mais usou. Não quer mais, mas o corpo pede e é super difícil...
Deram uma volta, foram para o parque e caminharam o tempo todo, caminharam para Renata cansar, e agüentar a ansiedade... Depois, começou a passar e ela se sentiu exausta. Deitaram na grama e ficaram ali, horas. Ele acariciava seus cabelos e pensava no que estavam fazendo, pedindo a Deus, ou seja lá quem fosse, que lhe estivesse escutando os pensamentos, força pra agüentar até o fim ao lado da amiga. E que tudo isso passe logo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

EPISÓDIO 33: Quase!!!

Enquanto a galera toda pensa nos preparativos para a festinha de formatura e em estudar para o vestibular, Camila ainda não sabe se vai poder fazer as provas e nem se vai participar da formatura. Ela se inscreveu para o curso de Letras, numa faculdade federal e outra particular. Mas, com oito meses completos, o barrigão já começa a dar sinais de que vem gente nova por aí.
Enquanto toma banho, antes de ir para a escola, Camila acaricia a barriga e conversa com a filha.
- Então, meu amor... Será que tu vai deixar a mamãe fazer as provas? Será que vai dar tempo? Olha só, qualquer coisa, a gente dá um jeito depois. Tô louca pra ver a tua carinha, será que vai ser parecida comigo ou com o teu pai? Será que ele toma jeito depois que tu nascer? - Camila fala com doçura, enquanto sente a filha se mexer.
- Pelo jeito vai gostar de futebol que nem o Gegé, não pára de chutar a barriga da mamãe, Laurinha! - ela diz e pára, num misto de surpresa e felicidade. Enfim, tinha escolhido o nome de sua filha.
- Teu nome vai ser Laura, minha filha, Laura... Gosta? - e para cada pergunta, uma mãozinha devolve as carícias que Camila faz, perdida em pensamentos.
Na escola, Marcos e Joe convidam Mary Jane para cantar no dia da formatura.
- Sério, meu?
- É isso aí, o Líder falou com a gente ontem ainda. Então, rola? - pergunta Marcos.
- Ô... - responde Maria Joana com um sorrisão.
Joe aproveita a felicidade da amiga colorida pra dar um abraço apertado... Naquela noite, há três meses, depois do primeiro beijo na festinha no Hawaii, Joe levou Maria Joana pra casa dele. Ela estava meio altinha, e por isso nem percebeu que o caminho que faziam era outro. Já que o pai ia dormir fora, a casa tava livre pro novo casalzinho. Maria Joana deu uma melhorada no caminho.
- Ninguém na baia... - diz Joe abrindo a porta e estourando de rir.
Maria Joana dá uma risada e abraça Joe, que a leva para o quarto do pai. Apesar de bem descolada, a menina ainda é virgem, e fica um pouco nervosa com a situação.
- Tu não acha melhor a gente esperar um pouco mais pra isso, Joe?
- Tem certeza que não tá a fim? - diz Joe, afobado, com mil mãos pra cima da garota.
- É que eu nunca fiz, e acho que não tá na hora certa ainda. Não tô preparada... - responde Maria Joana, tentando se desvencilhar do abraço do polvo.
- Tem medo de pegar nenê, mulher?
- Também, mas não é só isso... Tem um monte de coisas... Eu prefiro esperar mais um pouco.
- Bom, meu pai tem camisinha guardada aí que eu sei... Esse risco a gente não corre... - diz Joe, piscando de um jeito safado pra ela.
“Nossa, é o mesmo jeito de piscar do pai dele!”, pensa Maria Joana, sorrindo de volta pro menino. Eles acabam na cama, mas não passam dos amassos. Maria Joana consegue controlar Joe, e eles adormecem juntos, pela primeira vez. No outro dia, a garota acorda com os beijos de Joe e um convite para o café da manhã.
- E aí, Mary... Dormiu bem? Tá a fim dum cafezão agora?
- Beleza!!! Aí a gente aproveita pra conversar... - responde ainda sonolenta.
Maria Joana senta e Joe arruma a mesa da cozinha com pão, bolo, biscoito, café, suco, leite e mais algumas coisas. Ela acha graça do jeitão do moleque dando uma de “dono de casa”.
- Tá uma gracinha... Só falta um avental agora! - ri Maria Joana.
- Olha lá guria... Não me tira... - diz Joe rindo também.
- E aí, como é que a gente fica agora? - pergunta a menina.
- Depende. - responde Joe. - Me diz uma coisa Mary, tu tá a fim de namorar mesmo ou só de um rolinho?
- Não sei, Joe... acho que a gente pode ir levando do jeito que tá, sem compromisso. A gente vai ficando, deixa rolar, pra ver no que dá. Tu sabe que eu não gosto de nada que me prenda.
- Fechou então, minha amiga colorida! - concorda Joe.
Agora, três meses depois, a dupla está ainda mais unida. De vez em quando são só amigos, parceiros de banda e de festa, mas vez ou outra pinta um climão e os dois ficam juntos de novo. Eles acertam os ensaios da banda para a festa de formatura e voltam para a sala de aula.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

EPISÓDIO 32: Com um pé no futuro

Paty e Naty estão no barzinho do Liceu comendo seus sanduíches naturais. Atrás delas estão Junior e Tatiene, que namoram firme há 3 meses. Como num flashback, as gurias relembram quando souberam do buxixo na semana seguinte à festa lá no Hawaii.
Junior, “o guri mais liiiiindo do colégio”, e Tatiene, “aquela arigó sem personalidade, que imita a gente com a cara mais deslavada do mundo” entrando juntos na festa, inclusive de mãos dadas? Como assim? “Esse mundo só pode estar pedido...”
As patis ficaram revoltadas com o fato de serem trocadas pela Tatiene e resolveram tirar a história a limpo com o ex-affair. Em pleno recreio, Junior e Tati estão no barzinho do Liceu, meio que assumindo o caso e as duas asquerosas chegam juntas, tirando satisfação:
- Seu idiota, tá cobrando quanto a reforma? - pergunta Paty, irônica.
- O quê? Cai fora! - responde Junior abraçando Tatiene.
- Pois é, Junior... Quem te viu, quem te vê! - provoca Naty, olhando atravessado para Tatiene.
No passado, Junior chegou a bolar um plano mirabolante junto com as patis para que Tatiene saísse da cola deles, mas na verdade, o feitiço virou contra o feiticeiro. Junior caiu nos encantos da “gordinha”, que se assumiu como é, parou de imitar as “tipas” e então chamou atenção do galãzinho da escola. O resultado disso tudo é que Junior e Tatiene estão super bem e o rapaz já nem dá mais bola pras duas magrelas que já foram suas cúmplices.
Fabinho, o amigo descolado que tá sempre com as patricinhas, tá dando a maior força pra elas superarem essa barra. Não fosse o fato de Junior estar com outra – o que já deixaria as gurias com o maior remorso – o pior é ele estar com a Tatiene!
- Calma, gurias, também não é o fim do mundo, né! – consola Fabinho.
- Claro que é o fim do mundo. – grita Paty, histérica. – Poxa, eu ficava com ele nos recreios, a gente se falava na net durante as tardes... Que saco! O que essa droga dessa arigó tem que eu não tenho? – questiona Paty, desolada.
“Humildade, mon amie”, pensa Fabinho.
- Ai suas mocréias, nem se queixem também. Vocês que tiveram a “brilhante” idéia de trancar a Tatiene com o TUDODEBOM de vocês... – retruca Fabinho.
- Pois é, honey. Tipo assim, maldita hora que resolvemos trancar esses dois, viu... – lamenta Paty.

O projeto “Na Sombra” vem rendendo frutos. Líder ficou tão maravilhado com a audiência pública que assistiu no Fórum que chamou a atenção do advogado que ele acompanhou. Dr. Nunes presta assessoria jurídica para o megaempresário Otávio Lins, pai de Junior, e indicou Líder para fazer a entrevista e trabalhar na empresa, já que tem uma vaga em aberto. Líder não só fez a entrevista como foi aprovado! Líder nunca esteve tão empolgado e agora, mais do que nunca, sabe que está prestes a estrear na carreira certa. Aliás, essa semana começa o vestibular em algumas faculdades particulares do Estado. Líder se inscreveu para Direito na FCJ (Faculdade de Ciências Jurídicas). Paty, Naty e Fabinho se inscreveram para moda na Faculdade Santa Marcelina. Junior e Tatiene vão prestar vestibular para Administração – ele porque tem vocação e pretende seguir os passos do pai quando herdar o império da família; ela, por falta de opção. Quem também vai tentar para Administração é Gegé, que se empolgou com o emprego na firma e decidiu que profissão seguir. Xandão vai fazer Educação Física, Juju quer Psicologia, Ana vai prestar para Nutrição. Além do vestibular, outro assunto que começa a martelar na cabeça da gurizada é a organização da festa de formatura do terceiro ano. Líder já se ofereceu pra fazer as honras (leia-se: virar-e-mexer para que a coisa seja bem feita). No recreio, ele aproveitou para falar com os representantes dos outros terceiros anos do Liceu, já que a formatura vai ser em conjunto. Líder ficou responsável por contratar a banda que vai tocar – e logo pensou que os colegas Joe e Marcos poderiam fazer essa mão. - Joe, Marcos... Tão afim de tocar e divulgar a banda de vocês? – pergunta Líder. - Ô, é pra já! – responde Marcos.- Que que manda, cara? – pergunta Joe. - Vocês tão ligados que estou organizando nossa festa de formatura, né? E eu conversei com o pessoal das outras turmas e decidimos que uma banda deve tocar na festa. Como não temos verba nem nada e temos que contar com a parceria dos amigos (hehehehe), quero saber se vocês topam! - Bah, meu, tô dentro! – responde Joe, como responsável pela banda. - Beleza, então! A festa vai ser na segunda semana de dezembro. Até lá, dá pra vocês treinarem direitinho. – sugere Líder. - Hum, e será que convocamos a Mary Jane pra fazer o vocal? – questiona Marcos. - Ah, eu acho que ia ser massa uma voz feminina. – opina Líder. Péééééééééééééééééééééééééééééémmmmmmmmmmmmmmmmmmm!

EPISÓDIO 31: Conversa franca

- Oi Rê...
Renata sente um frio na barriga. Embora a voz pareça familiar, ela não reconhece na hora. Vira-se...
- O que tu tá fazendo aí sozinha?
- Oi Fernando... a melhor pergunta é: o que VOCÊ tá fazendo aqui? Nunca te vi na noite antes... - Talvez porque eu nunca tenha me deixado ver...
- Então...?
- Digamos que eu tive uma motivação extra hoje...
- Hummm?
- E aí...?
Renata sente-se tão sozinha, tão triste que não tem nem vontade de falar. Está super preocupada com uns lances da dependência e tudo mais... Precisava desabafar, falar com alguém... E enquanto ela pensa nisso tudo, Fernando percebe que dali não sairá nada, e senta-se do lado dela durante uns dez minutos em silêncio.
- Como o céu da noite é louco, né? Diz ela, sem saber por onde começar...
- Muito...
Renata não se contém e começa a chorar. Quieta, calada, com um nó na garganta, as lágrimas escorrem. Fernando percebe a dor e a solidão da amiga. Percebe que a única coisa que pode fazer naquele momento é... Companhia. Passa o braço pelos ombros de Renata e puxa-a para perto de si. Ao sentir o abraço cheio de amor, ela começa a chorar... Chora de soluçar.
- Tem muita coisa sobre mim que ninguém sabe, Fernando.
- Eu posso imaginar.
- E pior, eu preciso de ajuda, mas não sei nem por onde começar...
- Olha Rê, se quiser, eu estou aqui...
Mas Rê já não conseguiria dizer mais nada naquela noite. Fernando levanta-se depois de uma meia hora em que estão ali. Estende a mão para ela.
- Vem Rê, vou te levar pra casa...
E juntos caminham, noite adentro, sem se preocupar com o perigo, sem se preocupar com nada, segurando a mão um do outro...

Três meses se passaram. O vestibular está próximo e a galera vai ter que encarar essa parada. Muitas coisas, agora, ficam só na lembrança. As festas, os casaizinhos, as aulas chatas de Física, tudo agora é passado. Não que não tenham mais importância, pelo contrário, muitas coisas foram decisivas para a turma. Depois de um longo tempo afastado das aulas, das festas, do futibas e do pagode com os amigos, Gegé é um dos que se prepara para o vestibular. Alguns colegas já fizeram as provas, mas ele ainda não. Aproveitou os dias de recuperação para estudar. Estava decidido que, apesar do medo das responsabilidades que terá que assumir, vai prestar o vestibular e se esforçar para passar. Antes, quer conversar com Camila. Aliás, os dois querem colocar uns pingos nos is, decidir o que fazer daqui pra frente e tomar um rumo de vez. Ainda estão morando separados, desde a briga que tiveram após o acidente de Gegé. Camila chega na casa do garoto no final da tarde. Ele já está esperando a namorada, que já chega cheia de cobranças.
- Olha, Gegé, antes de tudo, tu vai ter que me explicar o que aconteceu naquela festinha que tu foi no dia do acidente. Já esperei demais. Desembucha – diz a garota, nervosa.
- Cami, é o seguinte. A gente não tava numa boa, eu precisava sair, me divertir, dar um tempo pra cabeça, por isso resolvi sair com os guris. Eu vou te contar tudo o que aconteceu naquele dia.
- Anda, fala logo então – diz Camila.
- Depois que a gente saiu do jogo, eu tentei te ligar pra te avisar que eu ia lá com eles, mas tu não me atendeu. Pensei que não seria nada demais, então fui. Tomei umas biras com a gurizada, curti um som e tal. Pra mim era pra ficar nisso, mas acabou rolando mais coisas – diz Gegé, já expressando preocupação.
- Conta logo, fala de uma vez! Que coisa! - grita Camila.
- Tá bom. Tinha uma menina lá, que não parava de me olhar. A gente começou a conversar e acabou rolando um beijo – confessou Gegé.
- Ah, mas tu é muito cafajeste mesmo, cara, não sei como é que pode. Tu tá esperando um filho e me faz uma coisa dessas. Mas é bom. É bom pra ver que não te conheço como eu pensava – desabafa.
- Pois é, Cami, eu também achei que não faria uma besteira dessas, mas aconteceu. Mas também, não foi nada demais, só um lance com uma menina diferente, sei lá.
- Uma menina diferente, né... Espero que tu goste da menina que está chegando na tua vida. A nossa menina, Géverson. – revela Camila.
- É uma menina mesmo? Que legal. – empolga-se.
- Pois é, antes tu nem te interessou em saber. Só ficava se lamentando de não poder mais jogar, não poder mais tocar, agora quero ver se vai ter peito pra cuidar dessa menina.
- Tu tem que me entender também, Cami, eu tô confuso. É tudo muito difícil pra mim. Eu não tenho certeza se tô preparado pra encarar as obrigações de um pai, ainda mais depois dessa - diz Gegé.
- Eu acho que não, mas tu deve pensar bem. Vai ser difícil eu perdoar depois do lance do pagode, mas agora o que mais importa é a minha menina.
- Olha, Cami...- Gegé é rapidamente interrompido pela namorada.
- Vamos fazer o seguinte: a gente dá um tempo, tu pensa bem no que tu quer da vida, eu vou pensar se vale a pena ficar contigo, e depois a gente conversa de novo. Outra hora a gente se fala.
- Mas, Cami...
- Deixa assim, é melhor. – diz Cami, já se dirigindo à porta.
- E nem pensa em me procurar na aula ou me ligar. A gente tem que dar um tempo mesmo, pra valer – diz a garota, se despedindo.
Apesar da frustração, Gegé já esperava por uma conversa como essa. Ele está confuso, pensa em largar tudo e depois se arrepende. Acha que precisa mesmo de um tempo. Vai ser bom.
Pensando em descontrair, pensa nos amigos boleiros e lembra da fisioterapia.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

EPISÓDIO 30: “Festa estranha com gente esquisita...”

Se fosse combinado não daria tão certo. Nossa, a turma em peso se bandeou pro Hawaii. Tá certo, certas pessoas jamè freqüentariam um lugar como aquele. É o caso da Paty e a Naty. Elas até sabiam que ia rolar alta galera por lá, aí, pra não se roerem de vontade de ir, chamaram a Ana pra uma sessão de filminho meloso na casa da Naty. A Ana é tão na dela com as paranóias de que tem de emagrecer, que até tem vergonha de sair de casa. Só sai pra ir pra escola e, no máximo, como neste caso, na casa de alguém, onde não vai ter muita gente.
E as gurias jamais iriam acreditar no que as belas lentes de contato delas deixariam de presenciar naquela noite. Junior, o TDB, chega no showzinho acompanhadíssimo, com direito a mãozinha dada e TUDO!!!! Se até pra quem tava lá parecia uma miragem no deserto, imagina pras patis, que perderam a cena.
Sim, o boy chega com Tatiene, ambos meio sem graça e sem saber como agir, pra onde ir e tal... Ela combinou com a Lúcia que estaria lá pra animar a CDF. Lúcia, que por sinal nunca sai de casa, não sabia nem o que vestir na ocasião. Tava com uma roupa tipo missa de domingo, coitada. Até por causa da influência que as patis tinham sobre ela, Tatiene meio que se choca e leva a amiga ao banheiro pra dar uma descontraída no visú.
- Junior, espera eu voltar? – pergunta preocupada a garota.
- Claro, o Líder tá chegando aí, temos umas coisas pra acertar. Vai lá que te espero. – tranqüiliza o cara.
- Jura? Que queridinho. Tô indo, então. Voltamos já. – sorri Tatiene
Enquanto Tatiene mexe no cabelo da amiga, abre o botão da camisa fechado na altura do pescoço, Lúcia resmunga, afinal, sente-se um peixe fora d'água:
- Ai Tati, já vô avisando que não vim pra ficar segurando vela, hein...
- Ah é, hein, danada! Pensei que tivesse sem companhia, nada pra fazer, por isso te chamei. Vai contando aí teu plano sórdido, hehehe – se diverte Tatiene.
- Não tem plano nenhum. Esse é o último lugar que um pangaré feito o Leco viria. E sei lá o que vi nele também. Com tanto cara legal por aí... O problema é que sei lá, não sei como agir, o que falar, como dar a entender algo. Nunca tremi por alguém. O Leco tem seu charme, mas só. Não me vejo com ele. Acho que ia ter vergonha até. Acho que não existe alguém pra mim.
- Lúcia, tu é BV! (boca virgem, nunca beijou) – surpreende-se Tatiene.
- Psiii!!! – cala a boca, sua trouxa! Quer que todo mundo ouça, é? Sou sim e daí? Tava sempre tão preocupada em passar em Medicina que nunca saí, aí nunca beijei também. Mas tô sentindo falta. Saber como é pelo menos, oras. – se lamenta.
- A gente resolve isso ainda hoje à noite! Vai ver só. – planeja Tatiene.
Enquanto isso, Líder chega. Junior queria falar com ele algo sério, mas não podia ser nem por MSN ou telefone, pois a causa merecia comemoração. Com o showzinho marcado, parece que todo mundo aproveitou pra fazer do Hawaii um ponto de encontro.
- Fala aí cara, qual é a boa?
- Cara, tu não vai acreditar! O advogado que tu acompanhou no projeto “Na Sombra” é amigo do meu pai. Falou muito bem de ti e agora meu velho quer que tu vá lá na empresa fazer uma entrevista pra uma vaga que pintou. Se tu te sair bem tem até treinamento.
- Bahhh! Sério isso?! Nossa, aí tô feito. Tava até preocupado de mal começar uma facul, isso contando que passo no vestiba né, e ter de bater perna atrás de emprego. Bah, agora entendo porque tu me chamou aqui! Vâmo comemorar!!!
Os dois vão ao balcão, onde encontram Mary Jane encostada em Joe, que acaricia seus longos cabelos ondulados. Junior faz que nem vê, mas Líder não ia deixar passar em branco:
- Que loves. Agora eu sei porque a banda de vocês não tem nome. É só um pretexto pra reinar “paz e amor”, ironiza.

Joe não dá muita bola pra zoação, afinal Mary se passou na ceva e ficou grógui em dois toques. Ele não ia ficar com ela pra ela nem se lembrar depois. E ainda tinha a Luana. Que ele ainda tinha esperanças de ver por lá, afinal convidou toda turma. - Meu, a guria tá mal. – justificou Joe.- Eu não tô mal. Eu tô feliz. É que tu é legal e tá aqui. E aqui tem muitas pessoas legais também... – soluçava Mary se enrolando nas palavras.- Eu já vi tudo! – disse Líder caindo fora após um breve jogo de olhares, alertando Joe que Luana tava na porta do Hawaii. – Boa sorte! – ironiza ele.- Putz, meu! Mary, te levo pra casa, tu não tá bem. Vâmo nessa? – Joe queria dar um jeito de sair de lá sem dar de cara com seu ex-affair, que por sinal nunca vingou.- Sinhêêê... Me leva que eu vou contigo. Eu tô feliz, eu quero ir contigo.Mary Jane sorria, sorria, sorria e feliz como estava se largou num abraço em Joe que ficou de frente pra Luana. Por mais que a criatura nunca tenha demonstrado maiores afetos ou considerações com ele, tava estampada a dor de cotovelo dela. Por mais que Joe nunca premeditasse algo do gênero, ficou feliz, como Mary Jane. Os dois, que sentiam-se antes chutados, viam-se agora livres, felizes e deixaram a embriaguez da noite embalar o momento. Nem todos viram o beijo e, com certeza a maioria não viu, e tampouco ficou sabendo quando o casalzinho saiu do Hawaii e pra onde foram. Só viram mesmo um clima muito bom entre a dupla que costurava abraçada o seu caminho.Enquanto isso, Michi sumiu e deixou Matthew esperando ela voltar do banheiro. O pior é que o cara pensou mesmo que voltava. Isso até Líder trocar duas frases com ele e dar a real pro gringo. Lúcia, desconfiada, passou a noite olhando pros lados, dançando só com a cabeça, morrendo de medo que a amiga lhe apresentasse algum mané. Isso até um cara, que ela disse ser “o número dela”, ficar por perto, só observando a pista. Ela não reconheceu porque Tatiene tirou os óculos fundo-de-garrafa dela e guardou na bolsa. Sem enxergar direito, mal podia imaginar que um dos maiores pagodeiros da turma, tava lá. Cadu tava era observando ela, que sem reconhecer nem o cumprimentou ou se deu conta.Luana foi embora, Marcos chegava perguntando por Joe e mais uma vez a galera contava toda história que rolou enquanto Renata tava lá fora.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

EPISÓDIO 29: O show

Bom seria se Mary Jane tivesse ficado em uma cerveja só... Depois da primeira, o show de Raul está para começar. Joe não desgruda de Mary Jane.
- E aí, Mary, caprichou na produção hoje, hein! Algum motivo especial?
- Nada não, me arrumo pra mim mesma!
- Sei... Joe lembra da colega de todos os dias, descabelada e desgrenhada e duvida muito da desculpinha esfarrapada. - De qualquer forma, tá linda!
- Sim, sim, valeu... Ô meu, vamos virar mais uma ceva?
- Claro! - Joe não está nem aí, sabe que a noite vai ser boa, porque o pai liberou a conta e chama mais uma cerveja.
Enquanto isso, Michele pavoneia pelo local. Está checando todas as possibilidades de companhia para a noite quando leva um susto.
- Hi, there!
- Ai!
- Opss... Sorry, did I scare you... io ti assustiei?
Ela dá de cara com Matthew e fica apavorada. “Jesus, que cara feio!”
Matthew havia descoberto com Marcos que o pai do Joe ia tocar no Hawaii e resolveu aparecer também. Mas ele não esperava ver a Michi ali. Era tudo o que ele queria.
- Do you wanna dance? Vucê queri dançerr?
- Quê? Michi não entende nada do português pessimamente falado do colega, e também não é lá-essas-coisas no inglês, com a música então, a comunicação fica impossível.
- Vice quier dançer? - tenta Matthew de novo.
- Não entendo! Donti understandi!
Matthew se irrita e pega a menina pela mão, arrasta pro meio do pessoal e tenta engatar uma dança...
- Iii! Olha lá, olha lá, o Matthew catou a Michi! - Mary Jane se acaba de dar risada!
- Putz, que louco né, heheheeh! – Joe acompanha Mary na gargalhada...
E os dois ficam ali rindo da cena de Matthew dando tudo de si para dançar com Michi. Mary Jane já está mais tranqüila... Depois da quarta cerveja que ela e Joe viram, a guria começa a viajar que "no fim, o pai do Joe é um velho, e que é um babacão porque deu mole pra ela mas tinha namorada, e afinal ela é uma guria massa e isso não tem nada a ver e o Joe tá sendo tri parça, tri parceiro mesmo, e aliás... o Joe é bonitinho, hein! Bonitinho e querido, não deve ter puxado o pai. Mas, é claro, podia melhorar como músico e nossa, mas a parceria dele tá tri massa”. A cabeça de Mary Jane já esta mais pra lá do que pra cá e ela começa a amolecer às investidas de Joe.
Um pouco depois da meia noite, chega Renata. Ela já ia no Hawaii de vez em quando e ficou sabendo por Michele que ia rolar o showzinho do pai do Joe no fim da tarde, por MSN. Pra sair de casa, foi aquela briga de sempre. Mas Renata não tava nem aí, não ia mesmo ficar em casa naquela noite. Estava super mal, numa bad trip. Saiu mesmo pra relaxar a cabeça daquele inferno doméstico. Chega e vê Mary Jane e Joe num canto conversando. Vai até eles:
- Oi pessoal!
- E aí, Rê, como é que tá? - cumprimenta Mary Jane, com a fala meio enrolada...
- Podre, Mary, podre... Mas tu já tá assim?
- Nada Rê, deixa que eu tô de olho! - assegura Joe.
- Então tá, se tu diz. Me dá um gole aí!
E Renata vira o copo de Mary Jane.
- Vou dançar...
- Tá, só cuidado para não tropeçar na dupla dinâmica ali... heheeheh!
Mary aponta para Matthew e Michi que estão numa situação no mínimo engraçada...
- Hahhahah... podexá! - ri Renata.
Rê passa por eles e ri mais um pouco. Dá uma piscada para Michi que devolve um sorriso meio envergonhado, meio sem graça, e tenta dançar um pouco. Pra esquecer os problemas, pra esquecer que não está legal. Dança uma música e se entedia. Resolve tomar um ar...
Rê sai do Hawaii. Diz pro segurança que só vai fazer uma ligação e já volta. Senta na calçada e começa a viajar... Pensa na sua vida, que está chegando o fim do ano e ela vai ter que prestar vestibular, mesmo sem ter a mínima vontade. Ela sabe que precisa de ajuda com o lance da dependência e não consegue se abrir com ninguém. Mas, também, pensa que ninguém se importa com ela, ou com as suas dúvidas e problemas. Se sente sozinha e triste. Olha para cima, pro céu escuro, e fica amargando a solidão.
De repente, lembra do bilhete misterioso que recebeu na escola. O bilhete está na bolsa, dentro da carteira. Ela puxa o papelzinho amassado e lê novamente. As palavras lhe fazem sentir menos sozinha. "Mas quem será que me curte assim...?" Está quase terminando quando sente que está sendo observada por alguém.
Olha pra trás e leva um susto.
- Oi Rê...!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

EPISÓDIO 28: Amor platônico = coração quebrado

No sábado, Joe, Marcos e Maria Joana estão ensaiando na garagem, quando chega Raul. O coração da menina dispara.
- E aí galerinha, beleza? Olha só, tá melhorando a parada por aqui, hein? Já tá dando pra curtir numa boa...
- Tu gostou mesmo? - pergunta a menina.
- Claro, e acho que foi tu que deu esse “up” na bandinha dos moleques... Tem uma voz linda, Mary!
- E aí, Raul, quando é que tu vai dar uma palhinha pra nós? - interrompe Marcos.
Joe assiste a tudo irritado. Não gosta que o pai se intrometa nos seus assuntos. Ainda mais quando Raul se torna o centro das atenções.
- Aí, saca só esse som... Só pra ti, Mary!!! - diz Raul, dando os primeiros acordes na guitarra.
Maria Joana reconhece a música. “Ô Mary Jane, Mary Jane / Você me deixa zoado / Ô Mary Jane, Mary Jane / Essa mulher é o diabo...”. Raul canta e ela desmancha. “Nossa, que homem é esse, que homem é esse???”. O pai de Joe é só sorrisos pra garota. Depois de cantar, ele pisca o olho de um jeito bem sacana pra Maria Joana e convida:
- Era isso. Quem tiver a fim de mais som, chega no Hawaii logo mais.
Era só o que Maria Joana queria. Era a oportunidade perfeita. Ela largou os guris no ensaio, nem deu muito as horas, e voou pra se arrumar para a noite. Joe percebeu tudo. “Cara, como é que eu ainda não tinha sacado, meu? A mina tá a fim do coroa, véio... Vou ter que dar um chego nesse bareco também.”
Maria Joana está pronta. São apenas seis da tarde e ela está prontíssima. “Mas que coisa, o que eu faço agora até a hora da festa, meu? Quem mandou ser tão ansiosa?”, pensa, enquanto dá voltas pelo quarto. “Já sei!!! Vou ligar pra Michi! Convidar aquela maluca pra ir junto!”.
- E aí, Michi! Tá a fim de ir pro Hawaii comigo? Tem show da banda do gato do pai do Joe! Ele me deu alto mole hoje de tarde no ensaio, guria!!! Tinha que ver, cantou uma música pra mim e tudo!!!
- Mas ahhhhhhhhhhh, hein??? Vou sim! Que horas começa a parada? - pergunta Michele.
- Aí é que tá o problema, meu... Eu já tô aqui pronta e a festa é só lá pelas dez, onze horas. Que que tu tá fazendo? Chega aí e a gente curte um bagulho massa que eu arrumei antes de ir pra lá. Coisa fina, mulher!!! - propõe Maria Joana.
- Pô, mas tu tá com tudo mesmo, hein? Tô indo praí! - diz Michele.
As duas ficam aquele restinho de tarde e comecinho de noite curtindo um backzinho e jogando conversa fora. Às dez em ponto, elas saem. Maria Joana está nervosa, com as mãos suadas, quase correndo ao invés de caminhar. Ao chegar no bar, Michele dá uma banda pra reconhecer território. Maria Joana espicha o pescoço e procura Raul. Ela o vê de longe, montando os instrumentos no palco, para o show.
- E aí, Raulzito, te disse que vinha, né? E aí, gostou da produção? - pergunta, girando o corpo lentamente.
- Nossa, tá uma gata, hein Mary? Pena que eu tô muito velhusco pra ti já... - brinca Raul.
- Que nada, Raulzito. Tu tá bonitão, e é charmoso pra caramba! - confessa Maria Joana.
Raul ia dizer alguma coisa quando chega Nara, sua namorada, enlaça seu pescoço e o beija, apaixonada. Maria Joana quer desaparecer. A raiva daquela mulher é tanta, mas tanta. “Ai, que vontade de dar uma surra nessa piranhuda! E esse Raul, qual é a do cara, meu? Dá alto mole pra mim e tem namorada? Pô! Vai se catá!”. Ela vai saindo de fininho. Até a “maresia” passa num piscar de olhos. Ela está bem lúcida. “De cara total agora, merda!”. Quando se vira pra ir embora, dá de cara com Joe.
- E aí, Mary, já vai? - pergunta o garoto.
- Sim, tô indo nessa. Não curti muito o lance aqui... - responde, tentando disfarçar a frustração.
- Fica aí, meu... Vamos curtir o show do velho! Olha só, vamos pegar um trago na conta dele, aí tu dá uma relaxada e pronto.
- É? Beleza, então...
“Mas isso não vai ficar assim... Não vai mesmo! Me aguarde, Raulzito, me aguarde!”, pensa, enquanto bebe uma cerveja.

EPISÓDIO 27: A volta por cima da arigó

Na terça-feira, a turma 304 tem aula de Educação Física logo no primeiro período. “Serve para acordá-los”, pensa o professor Giba. Giba é um parceirão da gurizada. Tá sempre de alto-astral. Com ele, não tem tempo ruim. Hoje ele propõe às gurias treinar handebol, já que as interséries acontecerão na próxima semana. Aos guris, propôs um clássico joguinho de futebol (por isso que Giba é adorado!).
Giba chama duas meninas para escolherem as equipes: Paty e Mary Jane. Na equipe 1, estão: Paty, Naty, Ana, Lúcia, Juju e Xandão como goleira. No time 2, estão: Mary Jane, Tatiene, Renata, Michele, Luana (goleira) e Andréia. O jogo começa. Algumas gurias se destacam positivamente. Tatiene é uma delas.
- Nossa, te liga como a Tati tá atacando bem. – comenta Xandão para sua protegidinha.
- É verdade. Tá jogando tri bem. Pior que eu já tinha notado isso... – responde Juju.
Desde o dia em que Junior deixou Tatiene a ver navios no Shopping Centro, num complô junto com as patricinhas Paty e Naty, a garota passou a encarar a vida de outra maneira. Tudo bem que ela continuou pagando pau pras patis, mas agora em escala menor.
Tatiene teve um conflito interior e parou pra pensar no que ela realmente quer da vida: “Pô, pra que eu quero ser igual a essas gurias nojentas? Pra que eu fico imitando elas? Elas são fúteis, vazias, não falam nada com nada, só contam baboseiras... O que isso me acrescenta? O que adianta eu ter a bolsa mais cara do mundo e ter pouquíssimos amigos? Ter o tênis da última coleção da Nike e não saber a tabuada do 8?”
Tatiene chega à conclusão que o melhor a fazer é mudar radicalmente, inclusive o visual. Ela assume o cabelo crespo e não faz mais chapinha na franja. Usa óculos fundo-de-garrafa e não tá nem aí pra isso. Assumiu, até, seus quilinhos extras. Aliás, já não assina mais seu apelido como Taty. Prefere o nome mesmo: Tatiene. “É mais forte, mais vibrante.”
O jogo na quadra poliesportiva do Liceu termina em 3x0 para a equipe de Mary Jane. E dois gols foram feitos por Tatiene, que se mostrou uma revelação no handebol. Xandão sai da quadra irritada, esbravejando, pois era a goleira da equipe 1 e deixou passar três gols.
- Bah, que droga, meu! Sou uma frangueira mesmo.
Lúcia, que também é da equipe derrotada, observa as aparentes mudanças da colega Tatiene e resolve puxar papo no caminho para o vestiário.
- Tati, reparei que tu anda mudada. Que bicho te mordeu? – pergunta Lúcia.
- Na verdade, foi a Santa Ingenuidade que fez um milagre e me abriu os olhos. - responde Tatiene, meio como quem corta o papo, mas feliz por alguém ter notado a diferença.
- Santa Ingenuidade? Como assim?!
- É... Eu me dei conta que não vale a pena ficar imitando umas pessoas sem conteúdo. Se for pra imitar, que se imite algum referencial, alguém bacana. Mas mesmo assim, ainda prefiro não imitar ninguém. O ideal é ser quem somos, numa boa.
- Verdade. Tu tem toda a razão. – responde Lúcia, já entrando no vestiário.
Com todas as mudanças, físicas e psicológicas, Tatiene passa a despertar a atenção inclusive do seu amado, o boyzinho Junior. Se antes ele a desprezava, agora eles até trocam idéia numa boa. Claro, a aproximação dos dois fez cair o castelinho de cartas das duas víboras patricinhas.
Os guris também terminaram o futibas e estavam no vestiário junto com as meninas. Já que no Liceu os alunos não trocam de roupa para as aulas de Educação Física, o vestiário é usado tanto por guris quanto por gurias só para lavar o suor do rosto e tal.
Junior escuta um buxixo dizendo que Tatiene foi quem melhor jogou handebol, se destacou como uma revelação para as interséries e resolve cumprimentá-la.
- Que massa, Tati. Parabéns por esses dois gols de hoje. – diz Junior.
- Ahhh, muito obrigada! Espero fazer mais gols no jogo da semana que vem. Um deles eu dedico pra ti, pode ser? – fala Tatiene, descontraída.
- Hahaha pode ser, lógico! – responde Junior, que não fica mais sem graça com as investidas da colega.
Paty e Naty, vendo o papinho do Junior “o cara” com a “gordinha”, resolvem armar pra cima dos dois. Conseguem a chave do vestiário do ginásio poliesportivo com o Gílldo e os deixam trancados lá, após a aula de Educação Física. Mas elas não contavam com a astúcia da Tatiene, que aproveitou o limão para fazer uma limonada. Afinal, estava trancada – sozinha – com o gatinho que ela mais curte no Liceu. Claro que num primeiro momento, eles ficam preocupados. Batem na porta, mas ninguém está por perto para acudi-los. Passado o susto inicial, Tatiene puxa papo com Junior, que se mostra receptivo. Conversam sobre vestibular, futuro, carreira, mercado de trabalho e, é claro, sobre namoro, ficar, beijo na boca, essas coisas. Junior percebe que Tatiene está mais agradável, tem um papo bacana, sabe conversar sobre diversos assuntos e não é vazia como as outras “tipas”, seus antigos casos.
Na sala de aula, a matéria do próximo período é Geografia e a professora pergunta se alguém sabe onde estão os dois ausentes. Paty e Naty, óbvio, não acusam. Ângela, a professora, chama o inspetor Rodolfo e pede que os procure e os traga de volta imediatamente.
Rodolfo vai até o vestiário e vê que ele está trancado. Pede a chave para o Gílldo que o acompanha até lá. Quando ele abre a porta... Mal acredita no que vê. É Junior e Tatiene aos beijos.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

EPISÓDIO 26: O bilhete

Gegé não sabe nem o que falar. Está no hospital, todo arrebentado e, pior do que a dor que sente pelo corpo todo, tem medo de Camila descobrir "tudo" o que rolou no pagodão e o remorso que lhe corrói o coração.
Olha Cami, não sei nem o que te dizer... Acho que não quero conversar agora, tô me sentindo muito mal.
- Não quer falar? Não quer falar? E eu devo o que, esperar até tu te sentir "mais-à-vontade"???
Camila está frustradíssima. Indignadíssima. Na verdade, nem sabe bem como está. Olha pro namorado todo arrebentado, olho roxo, duas pernas quebradas, e a pena suprime a raiva.
- Tá Gegé, descansa e depois a gente conversa, quando tu tiver te sentindo melhor.
- Obrigado... Murmura Gegé, num fio de voz.
Os boleiros estão preocupadíssimos com o amigo. Cadu não se conforma:
- Putz meu... Que baita merda esse acidente. Coitado do Gegé.
- Tu já viu ele?, pergunta Leco.
- Já, meu. O rosto tá terrível, desfigurado, e o pior são as pernas quebradas.
- Sim, e agora, quanto tempo ele vai ficar sem poder andar?
- No mínimo dois meses de cadeira de rodas.
- O futibas acabou pra ele, né?
- Pior...
É quase um funeral pros guris. Eles sabem o quanto Gegé ama futebol e o que significa não poder jogar por tanto tempo, quem sabe até, nunca mais voltar a jogar igual. Combinam uma visita para dar uma força ao amigo.

Renata está inquieta. Naquela manhã, ao chegar na escola, vê na sua classe um bilhete. Intrigada, ela pega o bilhete, pede para ir ao banheiro e lê. Diz assim: "Sem querer a gente existe, e sem querer outros existem e encontram a gente que existe... e na verdade o fato de outros existirem e dentre esses outros especialmente você faz o meu existir ter um significado totalmente novo. Sou tão feliz hoje, sinto isso de bom que há muito não encontrava... talvez nunca tenha encontrado... sou tão feliz hoje, por querer, e ter vontade de algo, ter vontade de entender cada vez mais tudo que envolve a existência de você."Ela nunca recebeu nada parecido. Não sabe nem o que pensar. "Que texto forte, que profundo! O autor deve ser alguém assim, super especial... Aliás, o estilo parece muito com o texto que a professora leu na sala na semana passada. Será a mesma pessoa?"Quando volta pra sala, Renata senta novamente na classe vazia ao lado de Fernando.- Oi! Tudo bem? Eu posso ficar aqui nessa aula?- E eu tenho escolha?, responde Fernando, supostamente de má-vontade.Renata se acomoda. Presta atenção na aula... Repara que Fernando tem os olhos fitos no professor, mas a cabeça no outro mundo. A aula é de História. História é interessante, mas nada naquela manhã é mais interessante que o bilhete que ela recebeu. Renata luta contra a vergonha e a vontade de compartilhar o segredo. "Ah, o Fernando não fala nunca com ninguém mesmo. Falar com ele é jogar um segredo ao túmulo..."- Fernando...- Quê...- Olha só isso...Fernando gela ao receber da menina o bilhete que ele mesmo tinha escrito. Havia chegado mais cedo naquele dia. Tinha sido o primeiro a entrar na sala e discretamente tinha deixado o bilhete na classe dela. Depois, com a algazarra dos colegas, ficou cuidando para ninguém derrubar o papel no chão e percebeu quando Renata pediu licença para ir ao banheiro ler seu poema. E, agora, ela vinha compartilhar com ele. Teria gostado?- O que é isso?- Lê, né...Ele finge ler o textinho que já sabe de cor.- E aí???, Renata olha ansiosa para ele.- E aí o quê? - O que tu achou?- Ahh... Tu quer minha opinião sobre o teu poeminha de amor... Hahahahaha, desdenha Fernando.- Mas tu é um trouxa mesmo, né?"Não, linda... Sou só o cara que não consegue mais te tirar da cabeça, que rabisca frases para ti o tempo todo, que te olha e vê a pessoa mais interessante do mundo."- Ai, Rê, se liga... Eu não acho nada dessa melação aí...- Mas, Fernando, o texto é muito massa. Não é melado. Te juro, nunca tinha recebido algo assim."Nunca??? Não, nunca. tu nunca recebeu algo assim, porque tu nunca me conheceu..."- Hummm... Sim, e eu com isso?- Quero que tu me ajude a descobrir quem é... Eu acho que é a mesma pessoa que escreveu o texto que a profe leu semana passada, lembra?- Não...- Ah Fernando, que droga... Em que mundo tu vive?"No seu..."A garota levanta indignada e troca de lugar, quando a professora intervém:- Mocinha! Pode ficar onde está, nada dessa trocação de lugar na minha aula! Na hora do intervalo tu vai onde quiser... Já foi ao banheiro, agora se acomode aí, por favor, e não me distraia mais..."Isso, fica aqui do meu lado..."Renata olha meio raivosa para o colega e obriga-se a sentar, mas fica meio de lado, meio de costas pra Fernando. Ele aproveita para olhar o cabelo dela, para sentir o perfume dela, para curtir tudo de bom que está sentindo por ela.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

EPISÓDIO 25: O ba-fa-fá

Na escola o assunto era um só: o acidente de Gegé. Cadu e Leco não estavam no carro, porque moram para o outro lado do bairro. Acabam sabendo da história na escola, no dia seguinte. Enquanto Leco tenta explicar para os colegas quem levou Gegé pra casa, as conversas de canto geram fofocas em massa. Ouve-se que o motorista era de menor, outros dizem que ele tinha bebido e alguns vão ainda mais além, questionando o porquê de Gegé ter ido ao pagode sem a namorada grávida. Eles teriam terminado? Seria algum problema com o bebê?
Esse monte de especulações perturba Cadu, que neste momento culpa-se por ter indicado a carona para Gegé. Abalado, isola-se no pátio e acaba nem entrando pra sala de aula.
Lúcia também está com a cabeça longe. Sente-se a última das mortais por seu grande sonho ter ido por água a baixo, principalmente por um detalhe que nunca nem cogitou. “Como alguém que quer fazer medicina desmaia quando vê sangue?” cobra-se. A CDF, nessa altura, nem parece ser a 1ª da classe. Sai da sala pra beber água à espera de um insight que defina sua nova aspiração profissional.
Ao ver Cadu acomodado em um degrau, vai até ele. Quer saber mais sobre o acidente. Como Leco está sempre rodeado de gente, contando dez vezes a mesma coisa, sem nem lhe dar uma atençãozinha especial, senta ao lado de Cadu pra conversar:
- Ai que chato o que aconteceu. E aí, sabe como tá o Gegé? Todo mundo fala uma coisa diferente, não sei nem em quem ou no quê acreditar.
- ARRRGGGHHH – desabafa Cadu num grito que até assusta Lúcia.
- Tudo bem, se não quiser falar eu vou embora, deve ser um saco todo mundo vir te perguntar a mesma coisa. – reconhece a garota, já se levantando.
- Não, desculpa, é que sei lá... É verdade o que tu falou, mas me sinto só, não consigo falar disso com ninguém. Tu é inteligente, Lúcia, daqui a pouco tu me entende e pode ser que me ajude. Eu que falei pro Gegé ir com o Sérgio, um amigo meu que mora perto da casa dele. Aí me sinto culpado, não sei se vou lá visitar o Gegé, se peço desculpas, se ele vai querer falar comigo, ou se ele tá com raiva de mim. Não sei nem como ele tá, mas é certo que ferrei com a vida dele, pelo menos por um tempo, e me sinto muito mal por isso.
- Ai Cadu, tu tá confuso. Calma, organiza teus pensamentos. Se vocês são amigos, ele vai ficar chateado se tu não for procurá-lo. Porque na hora do pagode lá de vocês era tudo parceria e agora que deu no que deu vai cada um pra um canto? Pensa como tu te sentiria no lugar dele. – aconselha Lúcia.
- Nossa Lúcia, é bem isso. Como não me liguei antes? Tu é bem ligada nas coisas, hein.
- É, pode ser. Na verdade também não me liguei em uma coisa bem importante. Vai ver não me ligo em várias.
- Sim, tô sabendo já que tu não pode ver sangue. E que tu fica babando pelo Leco quando ele não te dá a menor atenção. É, Lucinha, tem que se ligar, às vezes a gente fica tão preocupado com uma coisa que não olha pra quem tá perto. Te liga, hein! – alerta Cadu, que se despede e vai pra sala.
- Humf – Lúcia gagueja e não sabe o que falar. Mas guarda o conselho de Cadu, melhor amigo do cara que ela tá afim.
Na sala, Cadu combina com um pessoal uma visita pro Gegé, mas outros assuntos passam a preocupar alguns colegas. Joe quer marcar nova apresentação da banda, ainda sem nome, mas que agora, mais uma vez, tem tudo pra dar certo com Maria Joana no vocal. Andréia passa as tardes atrás de emprego e está decidida a conseguir carteira assinada – estágio só se for para as vagas de final de ano que costumam aparecer. Luana cogita ir para o turno da noite para aproveitar o horário que não trabalha. Assim, pode fazer uns cursos de atendimento ao público e, quem sabe, ser efetivada para turno integral no supermercado.
Marcos, depois de ter acompanhado um engenheiro no projeto “Na Sombra”, falou com o pai, que é mecânico, e quer convencê-lo a investir no crescimento do empreendimento que pretende assumir no futuro. Pedrão descobriu que tem cinco cáries pra tratar, quando esteve “Na Sombra” de um dentista e, que tem medo de anestesia. José e André, os metalúrgicos da turma, souberam pela empresa que têm chances de serem enviados para a Itália, para cursos de aperfeiçoamento, pois no final do ano concluem o curso técnico. Mas terão de cursar italiano e não sabem em que dia e horário farão isso. Mathew quer voltar para os States, mas seu pai está se firmando profissionalmente no Brasil. Renata ainda está pensativa sobre o poema de autor desconhecido. Naty, Paty e Fabinho querem viajar juntos nas férias, mas não conseguem definir um país que se enquadre nos interesses de cada um.
E, para Gegé e Camila, não bastasse a gravidez não programada, o acidente veio desmoronar o pouco que conseguiram construir até então. Dizem que uma má notícia não vem sozinha, no caso do jovem casal não veio mesmo. A empresa onde Gegé está trabalhando disse que como ele estava no período de experiência e não completou três meses, não podeam contratar um funcionário sem condições de trabalhar. Inicialmente compreensiva com o tal pagode por conta do acidente, Camila acredita que Gegé foi irresponsável e o relacionamento fica abalado:
- Gegé, na primeira vez que discutimos, quando voltei pra casa da minha mãe, tu saiu pra te divertir. E olha no que deu: te acidentou, perdeu o emprego, tá todo quebrado sem nem poder ir pra aula. E o vestibular, hein? Nossa, Gegé, não esperava isso. E ainda por cima eu tô grávida. Como vou poder contar contigo? – desabafa a namorada.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

EPISÓDIO 24: O acidente

- Tá, mas e eu, como é que fico? Tu simplesmente pega tuas coisas e volta pra casa da tua mãe. Depois eu é que sou o insensível... - diz Gegé, irritado com a namorada. Espera alguns segundos e nenhuma resposta do outro lado da linha...
- Cami, tô falando contigo, poxa vida - insiste.
- Olha, eu e minha mãe nos acertamos, ela está me dando muita força e acho que isso fará bem pra mim. - responde Camila.
- Tá, pode até ser, mas e eu? - pede Gegé.
- Tu pode ir lá quando quiser, pode até dormir lá com a gente se sentir falta... - responde Camila, cinicamente.
- Mas não é a mesma coisa. Agora que eu tô até trabalhando, a gente pode começar a comprar as roupinhas do bebê... Aliás, tu nem me disse como foi a tua eco.
- É né, pois é, mas parece que tu nem tá muito preocupado com isso....
- Putz, mas tu tá pegando pesado, hein! Segura a onda também né, Camila, não é por aí... Tô me quebrando pra conseguir trabalhar, estudar e me preparar pro vestibular pensando nesse bebê. - diz Gegé, muito nervoso.
- Bom, eu vou ficar por aqui mesmo...
- ...depois eu te ligo. - Gegé termina a conversa, indignado.
Uma mistura de raiva e incerteza toma conta do garoto. Tudo era muito confuso para ele naquele momento. No dia seguinte, na aula, Camila não aparece e Gegé fica ainda mais brabo. Resolve que não vai ir mais atrás de Camila, ela que dê o próximo passo, ela que o procure, porque ele também não é um bunda-mole que vai ficar aceitando tudo que ela fala.
Depois do trabalho, Gegé tinha um futibas marcado com a turma. Ao final da tarde, ele encontra Cadu e Leco e vão juntos para o jogo.
A essa altura, o futebol era uma forma de Gegé esquecer um pouco suas preocupações. Depois da partida, comentou que estava pensando em ir na casa da Camila, mas os colegas insistem que ele os acompanhe numa rodinha de pagode, num bairro mais distante do centro.
- Bah, gurizada, eu acho melhor ver a Cami. - diz ele para os amigos.
- Vamos, cara, não vamos ficar muito lá, depois a gente consegue uma carona pra ti e tu pode ver a Camila. - insiste Leco.
- Tá bom, mas temos que voltar logo, hein? - lembra Gegé.
Embora preocupado com a hora do retorno, Gegé chega à conclusão de que um pouquinho de lazer não vai fazer mal. Ele precisa de algo para se divertir. Chegando lá, a festa já está a mil. Muitas minas, um pagodinho animado e uma ceva pra descontrair.
Gegé decide entrar no clima. Ele toma algumas cervejas, canta com a galera, conhece bastante gente nova e se diverte. Tinha até uma loirinha dando moral pra ele... Ainda olha pro celular, não vê nenhuma chamada. Gegé pensa "Quer saber, vou curtir o momento!" e desliga o celular. Ao final da festa, quando todos estavam bem animados, Cadu chega para avisar que conseguiu a carona.
- Bah, Gegé, sei que a coisa tá boa, mas a carona tá saindo... O Sérgio, meu amigo, vai te levar, tem mais uns caras que vão junto, mas tu não te importa, né?
- Claro que não! Mas já?? - reclama Gegé.
Resignado (meio alto) entra no carro e vão nessa. De repente, numa curva:
- VIRAAAAAAAAAPÁRAAAFREIAAAAAAAAAAA!!!!!!!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

EPISÓDIO 23: O poeta


Quando começaram com essa história de “sombra por um dia”, Fernando já se irritou. “Ai, só o que me faltava ter que ficar de sombra de alguém...”. Claro que não fez nada. Passou seus momentos de sombra em casa, ou em algum parque aqui, acolá, pensando...
Já bastava ter tido que escrever aquele texto chato sobre a tal da palestra com os profissionais, agora ainda ter que seguir alguém... O pior tinha sido ter que bancar o bacanão praquela trouxa da Naty que veio puxar papinho sobre a tal da artista. Terrível.
Na semana seguinte, a professora estava para entregar os textos.
- Turma, eu corrigi os textos de todos, e quero dizer que estavam todos muito bons. É claro que alguns mais completos do que outros, mas no geral, fiquei muito satisfeita. E um texto em especial foi muito diferente da maioria. Eu poderia considerá-lo ruim, porque fugiu um pouco da proposta, mas na verdade foi um texto reflexivo muito bom e por isso vou ler para a turma.
Lúcia se morde num canto. “Será o meu? Será o meu?”
Mary Jane espicha os ouvidos. Tudo que é reflexivo a interessa.
As patis já começam a cochichar. “De quem será, quem será o pensador da turma?”
A professora espera o burburinho acalmar e começa a ler o texto quando a turma está em completo silêncio...
“O que quero ser, o que quero ser...?
Como responder a tal pergunta,
quando a mais elementar questão ainda paira sem resposta alguma,
sem nem pista ou chance, como uma vazia lacuna...?
Como responder o que eu quero ser se nem pude optar SE quero ser?
O que eu quero ser...?
Pra que ser algo além daquilo do que eu sou...?
E será que não sabendo o que SOU posso escolher o que SEREI?
O quanto essa escolha afetará a minha vida e o meu redor?
Qual o sentido de estar aqui?
De, de fato, existir...?
Enquanto os dias passam e preciso a cada um deles tomar mais decisões,
sigo com todas essas questões...
Com alguns anseios na alma,
alma que grita e nunca cala,
embora a boca permaneça em silêncio.
É muito fácil seguir sugestões,
ou adquirir posturas e comprar opiniões,
pertencer a este ou àquele grupo...
E no fim, a profissão pode ser nada mais que isso...
nada mais que uma adequação para satisfazer aqueles que me dominam...
O importante é saber não o quê, mas sempre sim o PORQUÊ...
E sem porquê, já nada escolho...”
O silêncio continua na sala, durante praticamente um minuto inteiro depois de a professora ler o texto. Os alunos refletem sobre as palavras, até que, quase em conjunto, o burburinho quebra o silêncio como uma bomba de energia.
“blablaeuchoquefoieleblablaeudiscordoeuissoeuaquiloblabla...”
Líder pergunta:
- E aí, sora, de quem é esse texto?
- Isso eu não vou falar, Frederico. Como li o texto sem permissão da pessoa, não posso expor sua identidade assim. Depois, se ele/ela quiser, contará a todos.
Renata fica muito afetada pelo texto. Levanta do lugar e senta na classe normalmente vazia, ao lado de Fernando.
- Bah, meu, o que tu achou do texto?
Ele responde meio indiferente:
- Achei fraco. O cara falou, falou e não disse nada... Não entendi direito.
- Mas tu é curto mesmo, né? Pois eu achei muito, muito bom... Aliás me fez pensar pra caramba... Preciso disso mesmo... Pensar!
E a menina se levanta indignada com a ignorância do colega...
Fernando mal pode conter o calor que lhe percorre as veias e vai explodir em batimentos cardíacos, no peito, queimando o coração. Era a primeira vez em muito tempo que se sentia assim. “Ela gostou do texto! Ela entendeu! Ela vai pensar...!”
E Fernando percebe, talvez tarde demais, que não só encontrou o que queria fazer, como também o que gostava de sentir...
Fernando sai da escola naquele dia olhando para o futuro de uma forma completamente diferente. Antes de chegar em casa, não pode conter-se. Senta no cordão da calçada, puxa um caderno e escreve, extasiado, outro texto:
“Sem querer a gente existe, e sem querer outros existem e encontram a gente que existe.... e na verdade o fato de outros existirem e dentre esses outros especialmente você faz o meu existir ter um significado totalmente novo. Sou tão feliz hoje, sinto isso de bom que há muito não encontrava... talvez nunca tenha encontrado... sou tão feliz hoje, por querer, e ter vontade de algo, ter vontade de entender cada vez mais tudo que envolve a existência de você.”
E ficou um pouco mais ali, pensando nas palavras de Renata.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

EPISÓDIO 22: Isso é só o fim...

Gegé e Camila também são Sombras. Ele de um empresário, já que agora resolveu que quer cursar Administração, e ela de uma fisioterapeuta, embora pretenda mesmo fazer Letras. Apesar disso, Camila começa a ficar preocupada. Ela já está grávida de cinco meses, e ainda não sabe se vai poder prestar vestibular. Sem a ajuda da mãe, a menina se vê perdida. Ela decide telefonar, mas acaba desistindo da idéia por medo de se magoar novamente. Nessa hora, Gegé chega do trabalho e percebe a preocupação da namorada.
- Que que houve, Cami? - pergunta.
- Sabe o que é Gegé, tá pertinho do vestibular, eu tô com esse barrigão, o bebê vai nascer no final do ano e eu nem sei se vou poder entrar pra faculdade... - responde Camila, nervosa.
- Olha só, quando abrir as inscrições, tu vai lá e faz, tá? Aí depois a gente vê como as coisas rolam, porque vai depender de quando o bebê nascer. Amanhã tu tem médico, né? Tem mais uma eco e tal, aí já dá uma falada com ele... - tranquiliza Gegé.
- É mesmo! E amanhã de repente já vai dar pra saber o sexo do bebê!!! - ri Camila, mais animada.
No outro dia, os dois vão para a aula ansiosos com a consulta que Camila vai ter à tarde.
- Oi casal! - cumprimenta Michele.
- Oi Michi! Hoje de tarde vou saber se é menina ou menino, tô nervosa!!! - diz Camila, passando a mão na barriga.
- Que legal, Cami!!! Posso ir contigo? Aí te faço companhia e já vou saber da novidade antes do paizão aí...
- Pode sim, Michi! Melhor, já que não gosto muito de sair sozinha! A consulta vai ser as três horas. - diz Camila.
À tarde, Camila espera Michele na parada de ônibus. “Tomara que ela não se atrase”, pensa. Passam mais alguns minutinhos e ela vê a amiga chegando, quase junto com o ônibus. As duas embarcam e seguem para o consultório médico. Camila pede que Michele entre com ela na salinha da ecografia.
- Então, mãezinha, tu tem algum palpite? - pergunta o médico.
- Não, não faço a menor idéia! - responde Camila, aflita.
- Só mais um pouquinho... Ahhhh, aí ó! Tá vendo, Camila? - pergunta o doutor.
- Não consigo ver direito! Fala logo, é menino ou menina? - pede Camila, apertando a mão de Michele.
- É uma pererequinha, Camila! Podem começar a comprar os lacinhos e as roupinhas cor-de-rosa! - diz o médico.
“Minha filhinha... É uma menininha. Queria tanto que a minha mãe soubesse, será que ela ia gostar?”, pensa, emocionada. Camila sai do consultório mais angustiada do que feliz. Quando chega em casa, a primeira coisa que faz é discar o número da mãe.
- Alô... - diz a voz do outro lado da linha.
Camila respira fundo e responde.
- Mãe, é a Cami... Tô te ligando porque preciso te contar uma novidade...
- Fala logo então que eu não tenho muito tempo!
- É só que... Tô esperando uma menina... - conta Camila, emocionada.
Depois de uma longa pausa, a mãe de Camila a chama para uma conversa em casa. O reencontro é difícil, mas as duas conseguem finalmente se entender. Marisa sabe bem pelo que a filha está passando, afinal, viveu isso há exatos 17 anos. Grávida, viu-se obrigada a casar. E ver a barriguinha da filha assim, e a doçura dos seus olhos ao contar que a neta seria uma menina, amoleceu o seu coração. Ela deixou a filha à vontade, para voltar pra casa, se assim quisesse. Camila sai de lá balançada.
À noite, depois de uma briga boba com Gegé, por causa de uma garota da empresa onde ele trabalha, que começa a telefonar com mais freqüência, Camila decide arrumar as coisas e voltar para a casa dos pais. Géverson vê a namorada recolher as roupas, arrumar nas mochilas e ligar para a mãe, tudo sem poder fazer nada.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

EPISÓDIO 21: Dias de sombra

Para os alunos dos terceiros anos do Liceu, a semana foi especial. Eles puderam vivenciar a rotina de empresários e profissionais de diversos ramos, seguindo-os como sombras em suas atividades cotidianas.
Líder ficou na cola de um advogado. Já tinha meio que se decidido pelo Comércio Exterior, mas não titubeou em acompanhar uma outra profissão. Pelo contrário. “Quem sabe eu não me descubro em outro ramo, né?”, pensou logo quando sorteou o papelzinho.
Entrou em contato com o Ministério Público e escolheu acompanhar um advogado de pequenas causas, o Dr. Nunes. Foi em uma audiência no Fórum, que ia discutir sobre o pagamento de uma pensão. Líder nunca tinha entrado em um ambiente assim. Já tinha visto em filmes, claro, mas nunca imaginou que um dia pisaria em um Fórum.
- ...se o pai atrasar a pensão em três meses pode parar na cadeia. Nesses casos, o juiz da Vara de Família determina a detenção. - disse Dr. Nunes na audiência.
Líder estava extasiado. Boquiaberto. Maravilhado. Gostou muito do “juridiquês” e dos termos difíceis. Vibrou a cada “vossa excelência”, “nobre colega” e cada “meritíssimo” ditos. Gostou da forma como o Dr. Nunes defendeu sua cliente. Gostou da retórica e do poder de persuasão. “Advogar, na verdade, é saber empregar bem a retórica”, comentou Dr. Nunes após a sessão, quando Líder foi cumprimentá-lo pelo feito.
- Obrigado. Vejo um futuro advogado na minha frente... – respondeu Dr. Nunes, rindo da ingenuidade do seu “sombra”, que ficou realmente extasiado com toda a audiência.
A família de Líder tem no histórico alguns profissionais da carreira jurídica e agora o garoto é o mais novo candidato a entrar para o rol. Está decidido a cursar Direito.
No projeto “Na Sombra”, Fabinho teve a sorte de pegar uma profissão entre as três que estava em dúvida: Moda e Estilo. Como ele já tem alguns contatos nesse meio, resolveu viver durante um dia inteirinho na sombra do famoso estilista Vitório Hickétti. Acompanhou o feitio de alguns looks e viu as bordadeiras e as rendeiras finalizando seus trabalhos. Além disso, teve a oportunidade de assistir o desfile de lançamento da coleção primavera/verão do estilista VH, que é o ápice da carreira de qualquer criador de moda.
Fabinho sempre gostou muito desse negócio de tendências, cores, tecidos, modelagens, sobreposições... Enfim, o mundinho fashion, os holofotes, os aplausos e o estrelato sempre atraíram a atenção do entendido da galera. Se antes ele estava em dúvida entre Moda, RP ou Jornalismo, o projeto “Na Sombra” confirmou que Fabinho leva mesmo jeito pra ser um produtor de moda “Mas glamuroso, né, meu bem?”.
Mesmo com o episódio ocorrido lá no ginásio, quando teve a palestra vocacional e Lúcia vomitou após ver os slides da cirurgia cardíaca que o médico apresentou, a guria fez questão de acompanhar um profissional da área médica (fez tanta questão que quase brigou com a colega Juju pelo bilhetinho sorteado). Então, contatou um clínico-geral e explicou tim-tim-por-tim-tim o que seria o projeto “Na Sombra”.
Lúcia vivenciou durante dois dias o que é a correria na vida de um médico. Acompanhou até um plantão e um atendimento de urgência no pronto-socorro do Hospital Benfeitor. Lúcia já tinha noção que ver sangue não era nada agradável, mas mesmo assim insistiu. Com o soar da sirene da ambulância que aos poucos se aproximava, Lúcia pensou: “Não vem algo muito bom por aí...”.
Estava o Dr. Gabriel na sua sala no Hospital, quando entraram no pronto-socorro três pára-médicos empurrando uma maca com um rapaz desmaiado, mais ou menos 25 anos, que tinha recém sofrido um acidente de moto. “Fraturas de tíbia e bacia”, falou um dos pára-médicos para o Dr. Gabriel, o clínico-geral. A maca foi sendo conduzida até o Setor de Emergência. Lúcia, ao ver a cena do rapaz todo ensangüentado, não agüentou e desmaiou. A menina tem apenas 17 anos e não está preparada para esse tipo de cena. Pelo menos, não agora.
Pior que isso gerou um certo tumulto no corredor do Hospital Benfeitor. O Dr. Gabriel quis acudir a garota, mas não poderia deixar de atender o paciente fraturado. Então, chamou uma das enfermeiras para reanimá-la, enquanto ele se dirigia à Traumatologia. Quando Lúcia voltou à realidade, a cirurgia já havia terminado e o Dr. Gabriel já tinha ido embora.
Lúcia, a guria mais CDF da turma 304, sempre esteve decidida a fazer Medicina. Dedicou mó tempão estudando pra passar num vestibular concorridíssimo, matou as aulas de Educação Física porque achava uma perda de tempo fazer atividades de condicionamento muscular, por exemplo, e agora percebe que talvez essa não seja a carreira que queira seguir. E o mais angustiante é que, agora, quase em cima do vestibular, se deu conta que não tem outra opção de curso.
Naty, uma das patricinhas inseparáveis, que ironicamente tiveram que se separar (já que o projeto “Na Sombra” é individual), acompanhou uma artista plástica. Ela sempre quis ser uma estilista famosa, mas preferiu ser mente aberta e acompanhar uma profissão totalmente diferente daquela que sempre quis seguir. Naty acompanhou a execução de uma obra de óleo sobre tela que foi encomendada à artista Vânia Schitz, para uma exposição do Centro de Cultura.
Naty gostou muito da maneira como Vânia explicou as coisas. Como segurar o pincel, como tirar o excesso da tinta antes de pintar a tela, e por aí afora. Aliás, Naty gostou tanto que ficou em dúvida entre seguir a faculdade que sempre quis, ou se abrir para o novo e tentar uma carreira totalmente inusitada – pelo menos, pra ela.
Na sala de aula, resolveu trocar uma idéia com o Fernando, já que ele é todo caladão, todo na dele.
- E aí, Fernando, tudo tri? – puxa papo a patricinha.
- Dae Naty, beleza? Que que manda? – Fernando dá atenção, surpreendentemente.
- Bah honey, tô em dúvida! Eu sempre quis ser uma estilista famosa e tal, mas com esse lance do “Na Sombra” eu fiquei triiiiiiiiii na dúvida. Curti muito a profissão que eu acompanhei.
- E qual foi?
- Ah, eu fiquei na cola de uma artista plástica. Nossa, curti muito, muito mesmo. Eu acho que levo jeito pra esse negócio de artes.
- Mas Naty, pára e pensa. Tu pode ser as duas coisas se tu quiser. Tu pode criar uma coleção baseada em releitura de telas famosas, por exemplo.
Fernando dá seguimento ao papo, o que é mais surpreendente. Mas, além disso, ainda dá dicas e – pasme! – valiosíssimas para a colega patricinha. Aliás, Naty jamais esperou que Fernando fosse assim... Como dizer... Bom de papo! “Vai ver ele fica aí viajando nas aulas, mas ele é um baita dum cara bacana”.
- Naty, sabe que que tu faz?
- O que, Fernando?
- Vai ser arteira, guria! Hahahahaha...

terça-feira, 9 de outubro de 2007

EPISÓDIO 20: Sorte x Azar

No dia seguinte, exatamente como combinaram, a gurizada chama Líder pra explicar a idéia do projeto “Na Sombra”. Junior toma a frente:
- Líder, seguinte: ontem encontrei o pessoal tri perdido no cyber, procurando informações sobre profissões. Fala sério. Aí falei dum projeto que na empresa do meu pai foi bem aceito. O nome é “Na Sombra”.
- Continua, fala mais. – empolga-se Líder.
- A moral é alguém tipo a gente acompanhar o dia de um profissional. Toda sua rotina, desde que começa o trabalho até a hora que vai pra casa. A gente pode propor pra direção liberar e facilitar nosso acompanhamento. - explica Junior.
- Junior, tu podia ser advogado, hein. Teu poder de persuasão me convenceu. Além do que é uma boa idéia mesmo.
- Vou levar à alta cúpula – brinca Líder, referindo-se à direção.
- Imagina que legal acompanhar um bombeiro ou um médico, a qualquer momento pode acontecer algo. - empolga-se Leco.
Dias depois, a profe Adriana, de Sociologia, se diz contente pelo interesse de alguns alunos em saber mais sobre as profissões e da idéia de acompanhar a rotina de um profissional durante um dia inteiro, principalmente com a proximidade do vestibular.
- Como eu sei que vai acabar dando discussão, porque um vai querer acompanhar fulano e o outro também, vamos sortear quem acompanha cada profissão. É um acompanhamento individual, até porque, caso contrário, vira matação de aula, piadinha e acabam acompanhando pouco. - explica a profe.
A ansiedade toma conta da turma. Lúcia é a primeira a afirmar que vai acompanhar um médico e ponto. Não abre mão mesmo.
Com o sorteio...
- Ai, eu sou uma azarada! Com tanta profissão importante pra ser pesquisada fui pegar logo psicólogo. - reclama Lúcia.
- Qual o problema? É uma profissão importante como as outras, minha madrinha é psicóloga e atende muita gente, inclusive médico, que reclama que trabalha demais. – satiriza Líder.
- Tá, eu resolvo isso. Fica na tua. - chateia-se Lúcia.
Após o sorteio, a profe pede que Líder se responsabilize por pesquisar o período de inscrições e data das provas de vestibular das principais faculdades do Estado. Uma muvuca se estabelece na sala de aula. A turma toda é só comentários. No meio da baderna, Lúcia vai como quem não quer nada na classe da Juju, que comentou que gostava de Psicologia e, sabendo principalmente que ela foi sorteada pra acompanhar um médico, tratou de negociar a troca dos papéis com a garota.
- Juju, faço teus trabalhos até o final do ano. Pelo amor de Deus, troca esse papel comigo! É tudo o que eu te peço... - implora a CDF.
- Sem problemas, Lúcia. E nem precisa fazer nenhum trabalho pra mim, não. Que bom que tu lembrou que penso fazer Psicologia. Legal da tua parte. - comemora ingenuamente a menina, quando Xandão corta o papo, ameaçando Lúcia:
- É sim, pode fazer os meus trabalhos, então, pra eu não contar essa tua pressão pra trocar com a Juju. Aí me sobra tempo pra treinar futebol de salão – planeja a garota.
- Faço com o maior prazer. E psiu! Hein... Morreu aqui.
Os cochichos são interrompidos por Pedrão que, do jeitão dele, fala alto normalmente, nem precisa gritar.
- Dentista! Legal, tenho consulta esta semana, aí já fico por lá vendo o pessoal de boca aberta e bato-papo com ele. Nunca consigo conversar com ele. Com a anestesia não sei nem onde tá minha língua, hahaha – descontrai.
- Ai que mau-gosto! - berra Naty - Ainda bem que a profissão que peguei é suuuuper cultural. Artes Plásticas não tem nada de nojento. – analisa a garota, ao que Pedrão retruca:
- Tu que acha! Pra fazer esculturas já vi usarem barro, terra e até carne pendurada na rua.
- Ai, “Pedrão O desagradável”! Só quero saber da parte glamurosa. – destaca Naty, logo sendo interrompida pela professora que avisa a todos que serão avaliados pela apresentação que deve apontar pontos positivos e negativos da profissão.
Pra não dizer que todos ficaram empolgados, Fernando, lá do seu canto, nem prestou atenção qual profissional deveria acompanhar. Outro incomodado era Geek, que pensava qual poderia ser o ponto positivo ao acompanhar um publicitário: “Que gente chata, vivem empurrando coisa pra gente comprar. E ainda querem convencer a gente que fica bem numa roupa que fica horrível, ou que vamos utilizar muito uma coisa inútil”. Mas alguns empolgam-se:
- E aí, Marcos, vai acompanhar quem mesmo? É algo que tu gosta, ou quer fazer? – questiona empolgado Joe.
- É, mais ou menos. Vou acompanhar um engenheiro. Deve dar grana, mas na verdade por mim passava o dia na mecânica do meu pai. Acho que vou trabalhar com ele mesmo, largar de tocar por aí afora nos findis e ficar tranqüilo. Aí, eu podia fazer um curso tipo administração, afinal ele é um microempresário. - explica Marcos.
- Bah, cara, tu não devia largar de tocar. Mas tu quem sabe. Pior que é bom levar a sério tua idéia mesmo. Alguém vai ter que segurar as pontas lá na tua família quando ele não der conta e tem que saber administrar também. E não adianta tu pegar o bonde andando, de mão beijada e ir à falência em pouco tempo. – reflete Joe.
- E tu, tá empolgado? Vai acompanhar quem?
- Acredite se quiser. Um técnico agrícola. Meu, onde deve ter esse curso? – indaga Joe. No mínimo a criatura tem que se mudar pro meio do mato pra estudar. Heheehehe.
- Pois é, já é uma coisa pra tu pôr nas tuas observações. Já imaginou se mudar pra bem longe, sem conhecer ninguém? - preocupa-se Marcos.
- Nem fala. Largar tudo e começar do zero deve ser duro.
Mal Joe comenta e Luana completa:
- Eu acho bom. Gostaria de ir pra bem longe, conhecer gente nova.
Com o comentário, Joe se aborrece e sai da sala. Marcos pondera:
- Bah, cês tão de rolo e tu diz uma dessas. Quer saber, vai pro fim da fila e desempata a vida dele.
- Não vou abrir mão da minha vida por um cara que tem medo de sair de casa. Amanhã me inscrevo num vestiba em Santa Maria. Quer que eu desista agora? – reclama Luana.
- É, esse papo de vestibular muda muita coisa mesmo. Pelo visto, resolve algumas também. – conclui Marcos, encerrando o papo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

EPISÓDIO 19: Uma nova idéia

- Sobre que profissão tu escreveu? - pergunta Camila a Gegé.
- Sobre Administração. Não sei se é só empolgação pelo trabalho novo, mas tô começando a me interessar por essa área. Eu fico acompanhando a galera trabalhando lá no escritório, vendo o que cada um faz, e acho muito legal. Se eu conseguir me firmar lá no trampo, acho que poderemos oferecer um bom futuro para o nosso bebê – projeta o garoto.
- E tu, escreveu sobre o quê?
- Sobre Letras. Mas também tenho vontade de estudar Serviço Social. Pena que ainda não me sinto bem informada para escolher entre os dois – diz Camila.
- Uma hora dessas a gente pode ir num cyber, pesquisar sobre as profissões, o que tu acha? Até lá na empresa que eu tô trampando tem gente de várias áreas, de Recursos Humanos, de Psicologia, tem o pessoal da área da comunicação, administradores, além da galera da produção, que manja muito de engenharia.
- Gostei da idéia, mas fico sem jeito de ir lá no teu trabalho.
- Ah, vamos ver. Vou dar um tempo e falar com o meu chefe mais adiante. Ele é gente fina e sei que vai deixar – afirma Gegé.
À tarde, os dois vão passear. A palestra sobre as profissões empolga bastante Gegé. No dia seguinte, na aula de Educação Física, ele trata de dividir a motivação com os colegas boleiros. Cadu, Leco e Pedrão estão em um canto, falando sobre as expectativas para o futuro, o que pretendem cursar na facul e outros assuntos.
- Ae, gurizada, tô vendo que vocês também tão empolgados com essa história de vestibular – diz Gegé.
- Menos, menos. Pelo jeito, o paizão aí está louco pra garantir uma profissão que dê grana, né? - brinca Pedrão.
- Claro, né velho. Logo terei um bebezinho lindo pra cuidar – afirma Gegé, com brilho nos olhos, quase que ofuscando a preocupação que insiste em lhe acompanhar quando pensa no futuro. Ele aproveita para convidar a turma para ir ao cyber, para buscar informações sobre os cursos universitários.
- Bah, amanhã eu não posso e na quinta também não. São as duas noites em que eu tenho um futibiribas marcado com a galera – alerta Cadu.
- Eu também – diz o Leco.
- Então na sexta, o que vocês acham? - pergunta Gegé.
Todos concordam, e o encontro fica marcado para as 19h na frente do cyber. Na sexta-feira, Gegé lembra de convidar o Geek para ir ao cyber.
- Pô cara, convite de última hora é pra enterro – brinca o hacker.
- Falando sério, cara, hoje não dá. Tenho que baixar uns esquemas no E-Mule. Mas valeu pelo convite, manda abraços pra galera – continuou Geek.
Na hora marcada, todos estão lá, na porta do cyber café, menos o Pedrão.
- O cara é um folgado. Liguei pra ele e ele tá dormindo – diz Cadu.
- Ah, nem te estressa. Vamos nessa, turma, dar uma pesquisada geral – convida Gegé.
Divididos, cada um em seu computador, a turma se diverte. Os boleiros, claro, foram direto aos sites de futebol. Conferem os últimos resultados dos principais campeonatos, depois acessam sites específicos sobre Educação Física. Anatomia, condicionamento, aquecimento muscular, regras de vários esportes, tudo aquilo deixa a dupla animada. Camila vai direto nos sites de Letras e pesquisa sobre o universo escolar.
- Amor, depois quero ver alguma coisa sobre Serviço Social. Tu pesquisa pra mim? Não tô me sentindo muito bem - diz Camila.
- Já vejo – responde o garoto, lendo uma resenha sobre um livro de Philip Kotler, falando de administração de marketing.
Depois de algum tempo, Gegé percebe que ela está pálida.
- Tu não vê que eu não tô legal, poxa?
- Calma, calma – diz o garoto.
- Eu vou pra casa, tomar alguma coisa e descansar. Tô muito estressada. Nem parece que eu tô grávida. A minha mãe nem me dá bola, tu só quer saber de ficar com os teus amigos. Tô cheia disso - diz a garota.
- Não fica assim, te acalma. Depois a gente conversa. Eu vou ficar aqui com o pessoal e depois eu vou, pode ser? - diz Gegé.
- Pode. Tu não tá nem aí pra mim... - diz Camila.
- Bom, depois a gente conversa, amor - responde Gegé, estressado.
Camila se despede rapidamente dos colegas e sai. Os que ficam, imprimem bastante material sobre Administração, Educação Física, Serviço Social, Psicologia, Contabilidade e Ciências da Computação. Essas duas últimas, pensando nos amigos Pedrão e Geek, que, apesar de não irem ao cyber, certamente gostarão de se informar sobre essas profissões.
- Ô, gurizada, e se a gente levar esse material para a aula e apresentar pra turma, fazer tipo um debate? - sugere Leco.
- Boa idéia. Amanhã eu vou falar com o Líder para ver o que ele acha da gente organizar essa parada - diz Gegé.
Enquanto a dupla organiza os materiais que selecionaram na pesquisa, a chegada de um colega surpreende os dois.
- Ae gurizada, beleza? O que é que tá rolando? Tão fazendo alguma coisa da aula? - pergunta Junior, filho de um empresário bem-sucedido e reconhecido da cidade.
Estava indo pra casa e aproveitou para jogar um pouquinho no cyber. Os boleiros não iam muito com a cara dele. Achavam o guri um boyzinho, mas o recebem numa boa.
- A gente juntou um material sobre várias profissões e vai levar pra aula. Nós vamos ver com o Líder o que ele acha de montar um esquema, tipo um debate, pra gente discutir com a turma - diz Cadu.
- Bah, gurizada, nada a ver. Isso aí não vai render. Lá na empresa do meu pai tem tipo um projeto, que eles chamam de "Na Sombra". Um estudante passa um dia inteiro na cola de um profissional que ele acha legal, para ver como é a profissão. Eu acho muito massa esse lance. Tô vendo com o meu coroa um dia pra eu acompanhar um dos diretores lá da empresa, da área de desenvolvimento de produto. A gente podia lançar a idéia na turma para ver se o pessoal quer se inscrever, né? - sugere Junior.
- Cara, muito massa essa idéia! Vamos ver com o Líder se ele pode se informar sobre como a galera pode fazer pra participar desse projeto - sugere Leco.
- Feito. Vamos mesmo - diz Junior.